The Owl in Daylight é uma exposição de Daniel Frota de Abreu e Pedro Moraes, que se desdobra ao longo de uma série de intervenções e performances espalhadas ao longo do ano. Esses momentos podem ou não coincidir no tempo e no espaço. A presença da exposição é frequentemente transitória, mas às vezes parece permanente. Sua forma é variável, situando-se entre o discreto e o contínuo, entre palavras ditas em voz alta e sussurros. A estrutura do projeto está sempre aberta a reavaliações, sujeita a novas interpretações enquanto não desmoronar. E, se desmoronar, resta a mesma pergunta: como construir um mundo que não se desfaz após três dias?
O título The Owl in Daylight vem de um romance não escrito de Philip K. Dick. O livro existe apenas como a transcrição de uma entrevista de 1982, o ano de sua morte, na qual ele descreve todo o enredo. A história é narrada do ponto de vista de um personagem que vive em um lugar sem atmosfera. Sem nenhum som, a fala nunca se desenvolveu, e as palavras não existem. O fato do livro nunca ter sido escrito reflete a armadilha que Dick criou para si mesmo – uma tentativa de construir um mundo além de suas limitações sensoriais e linguísticas. Agora, separado de seu corpo e de seus sentidos, o livro finalmente pode ser escrito pelo autor.
— Você usou um bisturi! Por isso consegue escrever como se estivesse fazendo uma cirurgia. Imagine usar um tronco de árvore para traçar uma linha. Na verdade, este é meu instrumento favorito para escrever! É verdade que as palavras ficam bem brutas, muito brutas. Mas, pelo menos, tornam-se visíveis! Enormes! Suas palavras ganhariam um estilo expressionista, por assim dizer.
— Então, o que você está dizendo é que meu bisturi carece de expressão, enquanto esse tronco que você segura carece de precisão.
— Não só isso! Seu bisturi torna as coisas claras demais, limpas demais, sabe. E isso acontece porque seus movimentos são artificiais, pequenos. Você só move o pulso.
— Hã, então, como você chama todos esses rabiscos ininteligíveis que escreve com seu tronco? Como chama essa bagunça total? Liberdade de expressão?
— Prefiro chamar de opacidade.